quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O problema dos recursos:

Desde sempre que a maior preocupação da espécie humana foi a sobrevivência.

Nos primórdios, preocupava-se essencialmente em conseguir alimento e em sobreviver aos predadores. Com a revolução industrial, com o desenvolvimento tecnológico e científico, veio o progresso, a prosperidade, e o consequente aumento demográfico. A população de seres humanos cresceu de tal modo que hoje somos indiscutivelmente a raça dominante no planeta.

A questão fundamental é que algumas regras mudaram de modo irreversível. Por exemplo, até à relativamente pouco tempo, tínhamos que nos adaptar ao meio envolvente. Hoje em dia, temos capacidades para provocar alterações no meio ambiente de tal forma significativas que temos que nos adaptar ao novo meio ambiente por nós alterado. Isto poderá significar que de algum modo temos que nos adaptar a nós próprios.

No entanto, em muitos aspectos continuamos a adiar essa situação. Continuamos a viver segundo o pressuposto anterior que temos que nos adaptar e tirar o melhor partido das condições que nos são oferecidas.

Mas se já temos a capacidade de alterar o mundo em que vivemos, não está na altura de traçar um caminho que melhor sirva os interesses de todos? Contribuir proactivamente para que o mundo se torne naquilo que queremos que seja?

Se não olharmos para os interesses de hoje numa perspectiva futura, se não criamos mecanismos para que os interesses gerais se sobreponham (por regra) aos interesses particulares, vamos inevitavelmente chegar a um ponto de insustentabilidade. Não podemos continuar a viver o presente sem o pensarmos numa perspectiva de médio/longo prazo.

Recordem a seguinte frase: "... Nos países mais desenvolvidos é comum o sector terciário ser responsável por cerca de 80 a 90% da mão-de-obra da população activa. Por outras palavras, 80 a 90% dos empregos estão no sector dos serviços. Isto significa que a agricultura, pescas e indústria não emprega mais que 20% da população activa, podendo ser apenas 10%.

Nada de isto parece difícil de entender se imaginarmos os imensos campos cultivados com base em apenas algumas máquinas agrícolas, ou a enorme capacidade de pesca dos barcos modernos, ou as diferentes fábricas equipadas com tecnologia de ponta. Em qualquer destes casos, a mão-de-obra humana tem sido cada vez mais dispensada. Muitos querem mas não conseguem trabalho!

Isto significa que as nossas eventuais dificuldades não se prendem com os factores produtivos. Temos capacidades de produção mais do que suficiente. Uma só fábrica, um só navio, apenas alguns tractores, conseguem produzir para milhões.

A questão determinante poderá ser a falta de recursos. O problema é que os recursos não são ilimitados e por mais que se criem meios de aumentar a sua capacidade regenerativa e produtiva, nunca serão ilimitados.

Actualmente já se sentem problemas com a escassez de recursos. Há espécies em vias de extinção. Muitos já sofrem com a falta de água potável. No entanto, a grande maioria da população no planeta é pobre, e todos sabemos que um pobre consome muito menos recursos que um rico.

Ninguém espera que todos sejam ricos, mas julgo que seria legítimo pensar que seria preferível viver num mundo onde todos pudessem ter pelo menos o nível de vida médio dum país desenvolvido. Mas nesse caso, o problema dos recursos seria ainda mais grave do que já é actualmente. O que levanta outra questão: Não deveríamos viver numa relação de equilíbrio com o meio ambiente? Estou a referir-me à questão do equilíbrio nos ecossistemas. Se formos demasiados não vamos inevitavelmente desequilibrar a nossa relação com as restantes espécies e com os recursos naturais, e não pode isso acabar por nos afectar de modo imprevisivelmente trágico?

Fazem-se tantos estudos, complexos modelos matemáticos, análises e previsões, inclusive sobre a origem do universo ou a sua eventual expansão, mas não se ouve falar da população adequada. Creio que esta questão é fundamental a todos os níveis. Não só no que se refere à preservação do planeta e da relação equilibrada entre todos os que nele habitam, mas também no que diz respeito ao modo de vida.

Todos os países têm a sua própria capacidade de produzir riqueza. Muitas vezes não são auto-suficientes em todas as suas necessidades e também é da relação entre as importações e as exportações que resulta o maior ou menor grau de riqueza de um país.

Mas essa riqueza mede-se fundamentalmente pelo nível de vida dos seus habitantes. Se for suficiente para que todos tenham um bom nível de vida é muito diferente se o nível de vida médio for típico de um país pobre.

Mas isto por partes torna-se mais difícil de imaginar. Tentemos fazer a análise pelo mundo todo. Suponhamos que existe um só planeta, um só país, e que a riqueza neste mundo é suficiente para que todos os seus habitantes, actualmente cerca de 7 000 milhões, tenham no mínimo o nível de vida médio dos habitantes dum país dito do primeiro mundo, por exemplo, a Dinamarca ou a Suécia.

Claro que precisamos de uma riqueza extra para os ricos. Ou seja, temos que ter ricos neste nosso mundo, não faria sentido deixar de recompensar o empenho, o esforço, o mérito, a dedicação ou a inspiração. Então como é que faríamos isso? Teríamos que considerar um rendimento que permitisse esse nível de vida mínimo almejado, vamos supor mil unidades por habitante e todo o que sobrasse seria para dividir de modo diferenciado pelos mais capazes, pelos mais brilhantes, pelos melhores (um pouco à semelhança do que já acontece nalguns países).

Quanto mais houvesse para partilhar mais havia para distribuir, desde que o mínimo necessário para garantir uma vida com dignidade estivesse garantido para todos (contando que não cometessem qualquer crime nem fossem parasitas da sociedade).

Este raciocínio parece perfeitamente razoável, pelo menos para uma parte considerável da população do planeta. Mas levanta outra importante questão: Somos capazes de produzir essa quantidade de riqueza necessária? Não para apenas alguns países, mas para todo o mundo?

Sinceramente não sei, o que sei é que actualmente a maioria da população é pobre e já se ouve falar em falta de recursos e de várias espécies em vias de extinção, sem mencionar o desemprego e a crise económica.

É por isso que acredito que a economia mundial deve ser discutida e planeada numa perspectiva global.

Faria todo o sentido, considerando a capacidade produtiva actual e prevendo as capacidades futuras, após estipular qual seria o nível de vida mínimo com dignidade, determinar qual a população adequada para uma vida com qualidade e de modo sustentável, em equilíbrio com as restantes espécies.

É que este sistema competitivo não tem só vantagens. Claro que a competição é importante, mas não haja ilusões, os pobres já estão fartos de ser pobres e continuar a ignorar isso trará mais prejuízos que benefícios, mesmo quando a solução do problema parece assentar numa gigantesca utopia: A entre ajuda.

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