segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A justiça no reino das quinas

Em minha opinião, o problema da justiça, em concreto a falta dela, à semelhança da falta de investimento na edução (ou de um mau investimento), contribui para o atraso deste país face aos países que seguem políticas diferentes.

Quando há umas décadas atrás, Portugal decidiu que a aposta na educação deveria basear-se em formar uma pequena elite, cerca de 5%, e que a restante parte da população queria-se trabalhadora e humilde, hoje todos sabemos que foi uma aposta errada.

Não é com certeza com produtos de baixo custo que seremos capazes de competir, por isso, temos que ter muita gente inteligente e criativa, capaz de se organizar para produzir produtos e serviços que possam competir e ser atractivos, em qualquer parte do mundo. Mas não só, quanto mais informado e instruído for um povo, tanto mais é capaz de ser exigente para com os seus governantes.

Por isso, um ensino que se baseia em estatísticas que permitam dizer que grande parte da população tem como estudos mínimos o 12º ano, mas sem a adequada exigência para o atingir, acaba por ter um povo com pouca capacidade crítica, fraca capacidade de análise e de raciocínio, e que não atinge os níveis de produtividades dos mais desenvolvidos.

E assim vamos continuando a ficar para trás.

O mesmo se passa com relação à justiça.

Se um povo sente que não há justiça, lá no fundo, está-se nas tintas, não quer saber… De que adianta lutar por um país melhor se o país não é justo? Onde é que fica o orgulho nacional?

Desmoraliza, quando sentimos que não é justo, e que assim vai continuar, e que nada podemos fazer...

Aqui há não muitos anos, ouvi na TV o primeiro-ministro dizer que em Portugal só vai preso quem não for rico. Quem tiver dinheiro para contratar bons advogados, consegue ir adiando até que o caso prescreva.

Esse primeiro-ministro foi o Eng.º António Guterres. Desde então já voltei a ouvir o mesmo, pela boca de comentadores e outros líderes de opinião. A situação não mudou, está na mesma, mesmo que digam o contrário. De pouco adianta denunciar os casos (e as pessoas) se depois nunca se chega à condenação.

É evidente que isto favorece uma pequena minoria, uma minoria poderosa, e, ou, rica. Mas é daquelas muitas coisas que a parte se sobrepõe ao todo, e no fim quem perde é sempre o país.

Não adianta fazerem-se muitos debates, nunca seremos um país desenvolvido, nem próspero, enquanto não tivermos uma educação de qualidade, e um sistema de justiça que funcione com eficácia, rapidez e obviamente seja justo.

E à semelhança da educação, a justiça tem que proporcionar idênticas oportunidades a todos.

Uma pessoa deixar de fazer justiça por não acreditar na justiça é tão mau quanto deixar de fazer justiça por não ter dinheiro para pagar a um advogado. O estado devia avaliar todos os casos, e sempre que considerasse que aquele que apresenta queixa tem razão para o fazer, devia oferecer-se para o representar empenhadamente e de forma gratuita.

Porque o estado tem a obrigação de garantir que vivemos num país justo.

Essa seria sem dúvida, uma das boas formas de gastar os nossos impostos.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O problema dos recursos:

Desde sempre que a maior preocupação da espécie humana foi a sobrevivência.

Nos primórdios, preocupava-se essencialmente em conseguir alimento e em sobreviver aos predadores. Com a revolução industrial, com o desenvolvimento tecnológico e científico, veio o progresso, a prosperidade, e o consequente aumento demográfico. A população de seres humanos cresceu de tal modo que hoje somos indiscutivelmente a raça dominante no planeta.

A questão fundamental é que algumas regras mudaram de modo irreversível. Por exemplo, até à relativamente pouco tempo, tínhamos que nos adaptar ao meio envolvente. Hoje em dia, temos capacidades para provocar alterações no meio ambiente de tal forma significativas que temos que nos adaptar ao novo meio ambiente por nós alterado. Isto poderá significar que de algum modo temos que nos adaptar a nós próprios.

No entanto, em muitos aspectos continuamos a adiar essa situação. Continuamos a viver segundo o pressuposto anterior que temos que nos adaptar e tirar o melhor partido das condições que nos são oferecidas.

Mas se já temos a capacidade de alterar o mundo em que vivemos, não está na altura de traçar um caminho que melhor sirva os interesses de todos? Contribuir proactivamente para que o mundo se torne naquilo que queremos que seja?

Se não olharmos para os interesses de hoje numa perspectiva futura, se não criamos mecanismos para que os interesses gerais se sobreponham (por regra) aos interesses particulares, vamos inevitavelmente chegar a um ponto de insustentabilidade. Não podemos continuar a viver o presente sem o pensarmos numa perspectiva de médio/longo prazo.

Recordem a seguinte frase: "... Nos países mais desenvolvidos é comum o sector terciário ser responsável por cerca de 80 a 90% da mão-de-obra da população activa. Por outras palavras, 80 a 90% dos empregos estão no sector dos serviços. Isto significa que a agricultura, pescas e indústria não emprega mais que 20% da população activa, podendo ser apenas 10%.

Nada de isto parece difícil de entender se imaginarmos os imensos campos cultivados com base em apenas algumas máquinas agrícolas, ou a enorme capacidade de pesca dos barcos modernos, ou as diferentes fábricas equipadas com tecnologia de ponta. Em qualquer destes casos, a mão-de-obra humana tem sido cada vez mais dispensada. Muitos querem mas não conseguem trabalho!

Isto significa que as nossas eventuais dificuldades não se prendem com os factores produtivos. Temos capacidades de produção mais do que suficiente. Uma só fábrica, um só navio, apenas alguns tractores, conseguem produzir para milhões.

A questão determinante poderá ser a falta de recursos. O problema é que os recursos não são ilimitados e por mais que se criem meios de aumentar a sua capacidade regenerativa e produtiva, nunca serão ilimitados.

Actualmente já se sentem problemas com a escassez de recursos. Há espécies em vias de extinção. Muitos já sofrem com a falta de água potável. No entanto, a grande maioria da população no planeta é pobre, e todos sabemos que um pobre consome muito menos recursos que um rico.

Ninguém espera que todos sejam ricos, mas julgo que seria legítimo pensar que seria preferível viver num mundo onde todos pudessem ter pelo menos o nível de vida médio dum país desenvolvido. Mas nesse caso, o problema dos recursos seria ainda mais grave do que já é actualmente. O que levanta outra questão: Não deveríamos viver numa relação de equilíbrio com o meio ambiente? Estou a referir-me à questão do equilíbrio nos ecossistemas. Se formos demasiados não vamos inevitavelmente desequilibrar a nossa relação com as restantes espécies e com os recursos naturais, e não pode isso acabar por nos afectar de modo imprevisivelmente trágico?

Fazem-se tantos estudos, complexos modelos matemáticos, análises e previsões, inclusive sobre a origem do universo ou a sua eventual expansão, mas não se ouve falar da população adequada. Creio que esta questão é fundamental a todos os níveis. Não só no que se refere à preservação do planeta e da relação equilibrada entre todos os que nele habitam, mas também no que diz respeito ao modo de vida.

Todos os países têm a sua própria capacidade de produzir riqueza. Muitas vezes não são auto-suficientes em todas as suas necessidades e também é da relação entre as importações e as exportações que resulta o maior ou menor grau de riqueza de um país.

Mas essa riqueza mede-se fundamentalmente pelo nível de vida dos seus habitantes. Se for suficiente para que todos tenham um bom nível de vida é muito diferente se o nível de vida médio for típico de um país pobre.

Mas isto por partes torna-se mais difícil de imaginar. Tentemos fazer a análise pelo mundo todo. Suponhamos que existe um só planeta, um só país, e que a riqueza neste mundo é suficiente para que todos os seus habitantes, actualmente cerca de 7 000 milhões, tenham no mínimo o nível de vida médio dos habitantes dum país dito do primeiro mundo, por exemplo, a Dinamarca ou a Suécia.

Claro que precisamos de uma riqueza extra para os ricos. Ou seja, temos que ter ricos neste nosso mundo, não faria sentido deixar de recompensar o empenho, o esforço, o mérito, a dedicação ou a inspiração. Então como é que faríamos isso? Teríamos que considerar um rendimento que permitisse esse nível de vida mínimo almejado, vamos supor mil unidades por habitante e todo o que sobrasse seria para dividir de modo diferenciado pelos mais capazes, pelos mais brilhantes, pelos melhores (um pouco à semelhança do que já acontece nalguns países).

Quanto mais houvesse para partilhar mais havia para distribuir, desde que o mínimo necessário para garantir uma vida com dignidade estivesse garantido para todos (contando que não cometessem qualquer crime nem fossem parasitas da sociedade).

Este raciocínio parece perfeitamente razoável, pelo menos para uma parte considerável da população do planeta. Mas levanta outra importante questão: Somos capazes de produzir essa quantidade de riqueza necessária? Não para apenas alguns países, mas para todo o mundo?

Sinceramente não sei, o que sei é que actualmente a maioria da população é pobre e já se ouve falar em falta de recursos e de várias espécies em vias de extinção, sem mencionar o desemprego e a crise económica.

É por isso que acredito que a economia mundial deve ser discutida e planeada numa perspectiva global.

Faria todo o sentido, considerando a capacidade produtiva actual e prevendo as capacidades futuras, após estipular qual seria o nível de vida mínimo com dignidade, determinar qual a população adequada para uma vida com qualidade e de modo sustentável, em equilíbrio com as restantes espécies.

É que este sistema competitivo não tem só vantagens. Claro que a competição é importante, mas não haja ilusões, os pobres já estão fartos de ser pobres e continuar a ignorar isso trará mais prejuízos que benefícios, mesmo quando a solução do problema parece assentar numa gigantesca utopia: A entre ajuda.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Questões de trânsito: Q001

É impressão minha, ou tratam-nos por parvos quase todos os dias?

Parece que é assim porque tem mesmo de ser.

As situações são imensas, mas por agora refiro-me em particular àquela em que vamos numa via rápida e de repente começam a surgir sinais de que vai diminuir o número de faixas.

Depois, no asfalto, vemos setas a informar que temos que começar a passar para a faixa do lado, caso não estejamos desde logo nela.

Já muitos devem ter passado por situações idênticas. Os mais (como direi?) civilizados, obedecem aos sinais e colocam-se na respectiva faixa.

Passado um bocado, devido ao natural engarrafamento causado pelo abrandamento provocado pela supressão de uma das faixas, o comprimento de carros em fila chega à larga centena de metros.

Depois, continua a aumentar.

É precisamente nessa altura, que começamos a ver carros a passar por nós, como se o engarrafamento fosse apenas nosso.

Ou seja, uns vão pacientemente, devagarinho, continuando a sua marcha, enquanto os outros vão passando por esses, cheios de pressa e sem tempo a perder.

Claro que, quantos mais lhes passarem à frente, mais eles, os pacientes, demoram a chegar ao fim da fila, o ponto em que desengarrafa.

Mas, não podemos ser mauzinhos, temos e devemos acreditar que, das duas uma:

Aqueles tipos estão todos cheios de pressa porque têm assuntos urgentíssimos e inadiáveis e para os quais são imprescindíveis; ou, são uns valentes malandrecos, mas o que é que se pode fazer, o mundo é mesmo assim, e temos que ter paciência e dar tempo ao tempo…

Bom, na verdade existe ainda uma terceira hipótese: A maioria não o faz mas espera um dia vir a fazê-lo.

E aqueles dias, em que a fila chega a ter vários minutos, não é incrível que a faixa que melhor escoa seja precisamente a maldita da mesma, a tal que manda desviar?

O que não podemos deixar de lamentar é alguma falta de justiça. Na verdade seria mais justo se todos fizessem o mesmo. Nesse caso, o mais sensato seria enfiar-nos todos por onde pudéssemos, como se tentássemos entrar todos ao mesmo tempo pela porta da casota.

Pelo menos uma vez na vida, criava-se um caos tão grande, daqueles que não havia volta a dar e que parecia nunca mais ter fim, de tal modo que nos fizesse sentir estupidamente felizes por estarmos ali todos embrulhados uns nos outros.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Mundo ganha com o Princípio de Pareto?

Cada vez mais se assiste a uma pequena percentagem da população mundial ter tanto (ou mais) que uma percentagem esmagadoramente maior.

Há homens que têm mais poder de compra que milhões de homens juntos. Se pusermos de um lado numa linha imaginária o homem mais rico, quantos homens, se começarmos pelo mais pobre, conseguimos por do outro lado?

Começamos pelo mais pobre de todo o mundo, e depois o segundo mais pobre, depois o terceiro, e continuamos por aí fora. Até quando? Até onde acham que conseguimos chegar?

Um homem rico pode valer quantos homens pobres?

Um humano pode valer quantos humanos?

Se me respondem com o argumento da importância de recompensar o esforço e o mérito, pergunto: como é que tantas pessoas com profissões tão importantes para a sociedade (são tantas que me escuso a citar exemplos), são tão menos remuneradas que algumas outras?

Há “gestores de topo” que ganham milhares de contos por mês. Compare-se essas remunerações com, por exemplo, a remuneração de várias profissões fundamentais.

Provavelmente, um deles não consegue numa vida inteira de trabalho, 45 anos de trabalho, ganhar tanta quanto o outro ganha num mês? Numa hora?

A sociedade fica a ganhar? O país fica a ganhar? Fica o mundo? Quem fica?

Parece razoável o princípio do salário mínimo. Faz sentido garantir um salário mínimo para todos os que trabalham, que lhes garanta um mínimo da qualidade de vida; mas não limitar o empenho, o esforço, o mérito e a inspiração. Concordo, mas se o bolo for limitado, corremos o risco de, se a fatia para os prodigiosos for demasiado grande, não conseguirmos assegurar o mínimo para os menos, como direi, produtivos?

Mas mesmo que sejam, comparativamente menos produtivos, são profissões que fazem falta, e não estou a considerar, porque não os defendo, preguiçosos e oportunistas.

 Neste país, o salário mínimo não garante uma vida digna. Não acredito, e estou muito firme nesta convicção, que alguém da nossa elite conseguisse viver com o ordenado mínimo. Na melhor das hipóteses, alguns conseguiriam sobreviver. A maioria tornar-se ia (psicológica/psiquiatricamente) demasiado dependente.

No entanto, é mais fácil combater aumentos ridículos do ordenado mínimo do que por termo a salários escandalosamente e egoistamente elevados.

Não estranho tanto o egoísmo quanto a falta de visão. É óbvio que mesmo que alguns ganhem bastante mais, tem que haver alguma razoabilidade e sentido de justiça. O sistema símio do macaco dominante ficar com tudo e o restante do grupo ter que contentar-se com os restos, tem que ter necessariamente os dias contados, sob pena de não evoluirmos.

Introdução

Sem dúvida, podemos encontrar muita informação e de grande qualidade. Pode ser em forma de documentário, entrevista, filme, artigo de opinião, discussão, livro, etc.

Ver na televisão, ouvir na rádio, consultar na internet, ler numa publicação, num livro, ou até surgir numa conversa ocasional.

São muitas as fontes de informação. E mesmo quando se trata de informação de qualidade, sem querer abordar o que é informação de qualidade, mesmo que assim seja considerada por quem a recebe, mesmo essa, existe, na minha opinião, em grande quantidade.

Com isto pretendo dizer, que podemos receber, talvez até sorver, grandes quantidades de boa informação.

Mas mesmo assim parece que ficam tantas questões por responder. Seria muito positivo ver debater, com honesta intelectualidade e de forma desinteressada, tantas questões que pela sua enorme importância, custa a entender porque ficam tão esquecidas?

Não creio que o que quer que seja surja assim de repente. Tudo teve uma origem e uma evolução que nos conduziu até aqui. Por isso, não acredito que nada tenha que ser só porque sim.

Nem que fosse pelo gozo, desafio, ou pelo interesse de trocar opiniões, mas se certas questões fossem debatidas, perspectivadas, analisadas, questionadas por muitos, talvez apenas isso nos conduzisse a algo mais satisfatório.

Acredito que o mundo podia ser um local maravilhoso para se viver, mas não só para alguns.

Por isso, devemos começar por fazer mais perguntas, e acabar por exigir mais e melhores respostas.